O Senhor me chamou desde o seio materno; quando eu estava ainda no seio de minha mãe pronunciou o meu nome(Profeta Isaías 40,1).
Foi numa quarta-feira que nasceu o sexto filho de seu Juca Paraguaio e dona Júlia. Era o dia 10 de novembro de 1886. Na pia batismal da majestosa igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição de Serro, Arquidiocese de Diamantina, o menino recebeu o nome de Lafayette, em 30 de abril de 1887, quando o Vigário Pe. José Alves de Mesquita o acolheu para o batismo solene. O padrinho foi seu tio Francisco de Sales e Silva, casado com Veridiana(ver
nota 1), irmã de dona Júlia. A madrinha foi sua avó materna, Maria Eulália da Luz. Foi um dia importantíssimo, pois aquele menino, que seria um virtuoso sacerdote, tornava-se cristão a partir daquele momento. Era sua entrada na grande família dos filhos de Deus. Momento de festa, momento de alegria.
O menino Lafayette chegou quase no final do século XIX, considerado pelos católicos como o "século da Virgem Maria", pois a piedade mariana foi marcada por cinco grandes acontecimentos: a aparição da Virgem a Santa Catarina de Labouré (Medalha Milagrosa, em 1830), aparição de La Salette (1846), proclamação do dogma da Imaculada Conceição pelo Papa Pio IX (1854), aparição em Lourdes (1858) e aparição em Pontmain (1871). E assim o menino cresceu sadio e forte sob o olhar materno de Nossa Senhora, sua padroeira de toda a vida.
Lafayette teve uma infância comum. Brincou com os irmãos, freqüentou escola... Foi, certamente, aluno da Mestra Cristina de Queiroz Queiroga, que mantinha uma escola particular e foi professora de várias gerações de serranos.
Os três primeiros anos da vida do Servo de Deus foram os últimos do Segundo Império Brasileiro, tempos agitados no cenário nacional. Cinco dias após o menino Lafayette completar três anos, o Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República no Brasil. Esse era o cenário do País, acompanhado por muitos de seus ilustres conterrâneos.
A história do Brasil foi marcada, desde o início, pela presença e ação evangelizadora dos missionários da Igreja Católica, cujo intenso trabalho não se limitou apenas à catequese e à administração dos sacramentos, mas contribuiu na difusão da cultura e na formação integral do povo brasileiro. Assim como pode-se dizer que é impossível escrever a história do Brasil sem mencionar a história da Igreja Católica, pode-se dizer, também, hoje, que é impossível escrever a história da Arquidiocese de Diamantina, e, mais recentemente, da Diocese de Guanhães sem mencionar a história do Servo de Deus Lafayette da Costa Coelho.
Lafayette tornou-se um jovem de espírito alegre e extrovertido e foi ser professor primário na fazenda de Teotônio Magalhães. Tinha uma vida normal, como os rapazes de seu tempo. Teve dois "namoros de janela", como se dizia. O primeiro, com a filha de seu padrinho, a jovem Maria Gabriela; depois, com a prima Maria Nazaré, filha de João Batista, seu tio paterno.
Em 1984, quando estive no Serro, conversei com Maria Eremita Souza, historiadora da cidade, e com o Sr. Vicente Miranda, conhecido como Vicente de Bela, que me confirmou: "Cônego Lafayette, antes de se tornar seminarista, teve um namoro com minha mãe, quando eram bem novos".
Na mesma ocasião, também conversei com Maria da Conceição Sales Coelho, Dona Iaiá, filha de Olegário da Costa Coelho. Ela e o irmão Sílvio moram na mesma casa onde moravam os seus avós Juca Paraguaio e Júlia, na Rua General Osório n.º 55.
O sobrinho do Cônego Lafayette, Sílvio Sales Coelho disse que quando o tio chegava a Serro, hospedava-se sempre no mesmo quarto, um quartinho pequeno que dá para a sala de jantar. Os meninos ficavam na sala esperando o tio Cônego abrir a porta, porque tinham certeza de que receberiam um prata de mil réis... "À noite nós tínhamos um punhado de pratas. Ele também ajudava nossa tia Rita, que passava por dificuldades financeiras; meu pai recebia o dinheiro para fazer as compras para ela. Todas as noites ele ficava passando de um lado para outro na sala de jantar, rezando o terço. Celebrava às 4:00 horas da manhã na Igreja de Santa Rita, aqui perto de nossa casa."
Irmã Gabriela Sales, com seus 90 anos, perfeitamente lúcida, contou-me alguns detalhes sobre a vida familiar, sobre a infância e a juventude do Servo de Deus. Depois de algum tempo, ela enviou-me por escrito os principais pontos de nossa conversa. Ela relatou: "Lafayette, durante sua vida, foi um bom menino. Carregava água do chafariz para encher todo o vasilhame de casa. Era muito trabalhador. Dona Maria da Cruz da Costa Coelho, de oitenta e sete anos, prima-irmã do Cônego, ria muito e zombava de Dona Júlia, porque esta pagava ao Lafayette apenas 40 réis para engomar uma anágua".
O irmão de Lafayette, José da Costa Coelho, o quarto filho de Juca Paraguaio e Júlia, era de temperamento diferente do irmão mais novo. José era sério e introvertido, e, ainda adolescente, decidiu ir para o Seminário de Diamantina (cf.
nota 2). Lafayette, à primeira vista, não manifestou desejo de seguir o irmão. Era um rapaz religioso, mas não revelava nenhum pendor para o sacerdócio. Contudo, a atitude de José foi um leve chamado para ele.
O Sr. Acilino de Oliveira Otoni, de 81 anos de idade, relatou ao Pe. Euler, em 1972, o seguinte: "Quando o José ia para o Seminário, ajuntávamos um grande número de jovens cavaleiros e íamos levá-lo a uma distância de légua e meia a duas. Quando regressava do Seminário, de férias, era a mesma coisa. Fazíamos uma farra danada. À noite fazíamos uma algazarra tremenda em casa do Juca Paraguaio".
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Nota 1: Francisco e Veridiana, tios do Cônego Lafayette, tiveram os seguintes filhos: Maria Sales, Joaquim Sales (padre *05/06/1906 +13/03/1976), Gabriela Sales (Freira Vicentina), Vidica, Antônio, Francisco, Francisca e José.
Nota 2: Vicente, 83 anos, e sua irmã Isabel Pires da Costa Coelho, 85 anos, primos do Cônego Lafayette, lembram que já foram ordenados vários padres na família: Mons. José Coelho, Cônego Lafayette, Pe. Joaquim Sales, Dom José Pedro de Araújo Costa, Pe. Afonso de Fátima e Pe. João Nogueira. Juca, filho de Olegário, faleceu quando faltavam três anos para sua ordenação presbiteral. Para a Vida Religiosa, a família contribuiu com: Maria Costa Coelho, irmã de Juca Paraguaio, Ir. Gabriela Sales (+28/02/1996), Ir. Antônia Augusta, Ir. Maria Assunção Oliveira Coelho e Ir. Apoline Coelho.
(Trecho do livro "
A grandeza na simplicidade", de Pe. Ismar Dias de Matos, editora FUMARC, Belo Horizonte-MG, 2001, p.34-37).