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Chamando o Servo de Deus de "Santo" não queremos, aqui, antecipar o pronunciamento da Santa Igreja, mas queremos tão somente falar como o povo de Deus chama o Cônego Lafayette: "Santo Cônego".

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

UM POUCO DA HISTÓRIA DO JOVEM LA­FA­YET­TE

O Se­nhor me cha­mou des­de o ­seio ma­ter­no; quan­do eu es­ta­va ain­da no ­seio de mi­nha mãe pro­nun­ciou o meu no­me(Pro­fe­ta ­Isaías 40,1).

Foi nu­ma quar­ta-fei­ra que nas­ceu o sex­to fi­lho de seu Ju­ca Pa­ra­guaio e do­na Jú­lia. Era o dia 10 de no­vem­bro de 1886. Na pia ba­tis­mal da ma­jes­to­sa igre­ja ma­triz de Nos­sa Se­nho­ra da Con­cei­ção de Ser­ro, Ar­qui­dio­ce­se de Dia­man­ti­na, o me­ni­no re­ce­beu o no­me de La­fa­yet­te, em 30 de ­abril de 1887, quan­do o Vi­gá­rio Pe. Jo­sé Al­ves de Mes­qui­ta o aco­lheu pa­ra o ba­tis­mo so­le­ne. O pa­dri­nho foi seu tio Fran­cis­co de Sa­les e Sil­va, ca­sa­do com Ve­ri­dia­na(ver nota 1), ir­mã de do­na Jú­lia. A ma­dri­nha foi sua avó ma­ter­na, Ma­ria Eu­lá­lia da Luz. Foi um dia im­por­tan­tís­si­mo, ­pois aque­le me­ni­no, que se­ria um vir­tuo­so sa­cer­do­te, tor­na­va-se cris­tão a par­tir da­que­le mo­men­to. Era sua en­tra­da na gran­de fa­mí­lia dos fi­lhos de ­Deus. Mo­men­to de fes­ta, mo­men­to de ale­gria.
O me­ni­no La­fa­yet­te che­gou qua­se no fi­nal do sé­cu­lo XIX, con­si­de­ra­do pe­los ca­tó­li­cos co­mo o "sé­cu­lo da Vir­gem Ma­ria", ­pois a pie­da­de ma­ria­na foi mar­ca­da por cin­co gran­des acon­te­ci­men­tos: a apa­ri­ção da Vir­gem a San­ta Ca­ta­ri­na de La­bou­ré (Me­da­lha Mi­la­gro­sa, em 1830), apa­ri­ção de La Sa­let­te (1846), pro­cla­ma­ção do dog­ma da Ima­cu­la­da Con­cei­ção pe­lo Pa­pa Pio IX (1854), apa­ri­ção em Lour­des (1858) e apa­ri­ção em Pont­main (1871). E as­sim o me­ni­no cres­ceu sa­dio e for­te sob o ­olhar ma­ter­no de Nos­sa Se­nho­ra, sua pa­droei­ra de to­da a vi­da.
La­fa­yet­te te­ve uma in­fân­cia co­mum. Brin­cou com os ir­mãos, fre­qüen­tou es­co­la... Foi, cer­ta­men­te, alu­no da Mes­tra Cris­ti­na de Quei­roz Quei­ro­ga, que man­ti­nha uma es­co­la par­ti­cu­lar e foi pro­fes­so­ra de vá­rias ge­ra­ções de ser­ra­nos.
Os ­três pri­mei­ros ­anos da vi­da do Ser­vo de ­Deus fo­ram os úl­ti­mos do Se­gun­do Im­pé­rio Bra­si­lei­ro, tem­pos agi­ta­dos no ce­ná­rio na­cio­nal. Cin­co ­dias ­após o me­ni­no La­fa­yet­te com­ple­tar ­três ­anos, o Ma­re­chal Deo­do­ro da Fon­se­ca pro­cla­mou a Re­pú­bli­ca no Bra­sil. Es­se era o ce­ná­rio do ­País, acom­pa­nha­do por mui­tos de ­seus ilus­tres con­ter­râ­neos.
A his­tó­ria do Bra­sil foi mar­ca­da, des­de o iní­cio, pe­la pre­sen­ça e ­ação evan­ge­li­za­do­ra dos mis­sio­ná­rios da Igre­ja Ca­tó­li­ca, cu­jo in­ten­so tra­ba­lho não se li­mi­tou ape­nas à ca­te­que­se e à ad­mi­nis­tra­ção dos sa­cra­men­tos, mas con­tri­buiu na di­fu­são da cul­tu­ra e na for­ma­ção in­te­gral do po­vo bra­si­lei­ro. As­sim co­mo po­de-se di­zer que é im­pos­sí­vel es­cre­ver a his­tó­ria do Bra­sil sem men­cio­nar a his­tó­ria da Igre­ja Ca­tó­li­ca, po­de-se di­zer, tam­bém, ho­je, que é im­pos­sí­vel es­cre­ver a his­tó­ria da Ar­qui­dio­ce­se de Dia­man­ti­na, e, ­mais re­cen­te­men­te, da Dio­ce­se de Gua­nhães sem men­cio­nar a his­tó­ria do Ser­vo de ­Deus La­fa­yet­te da Cos­ta Coe­lho.
La­fa­yet­te tor­nou-se um jo­vem de es­pí­ri­to ale­gre e ex­tro­ver­ti­do e foi ser pro­fes­sor pri­má­rio na fa­zen­da de Teo­tô­nio Ma­ga­lhães. Ti­nha uma vi­da nor­mal, co­mo os ra­pa­zes de seu tem­po. Te­ve ­dois "na­mo­ros de ja­ne­la", co­mo se di­zia. O pri­mei­ro, com a fi­lha de seu pa­dri­nho, a jo­vem Ma­ria Ga­brie­la; de­pois, com a pri­ma Ma­ria Na­za­ré, fi­lha de ­João Ba­tis­ta, seu tio pa­ter­no.
Em 1984, quan­do es­ti­ve no Ser­ro, con­ver­sei com Ma­ria Ere­mi­ta Sou­za, his­to­ria­do­ra da ci­da­de, e com o Sr. Vi­cen­te Mi­ran­da, co­nhe­ci­do co­mo Vi­cen­te de Be­la, que me con­fir­mou: "Cô­ne­go La­fa­yet­te, an­tes de se tor­nar se­mi­na­ris­ta, te­ve um na­mo­ro com mi­nha mãe, quan­do ­eram bem no­vos".
Na mes­ma oca­sião, tam­bém con­ver­sei com Ma­ria da Con­cei­ção Sa­les Coe­lho, Do­na ­Iaiá, fi­lha de Ole­gá­rio da Cos­ta Coe­lho. Ela e o ir­mão Síl­vio mo­ram na mes­ma ca­sa on­de mo­ra­vam os ­seus ­avós Ju­ca Pa­ra­guaio e Jú­lia, na Rua Ge­ne­ral Osó­rio n.º 55.
O so­bri­nho do Cô­ne­go La­fa­yet­te, Síl­vio Sa­les Coe­lho dis­se que quan­do o tio che­ga­va a Ser­ro, hos­pe­da­va-se sem­pre no mes­mo quar­to, um quar­ti­nho pe­que­no que dá pa­ra a sa­la de jan­tar. Os me­ni­nos fi­ca­vam na sa­la es­pe­ran­do o tio Cô­ne­go ­abrir a por­ta, por­que ti­nham cer­te­za de que re­ce­be­riam um pra­ta de mil ­réis... "À noi­te nós tí­nha­mos um pu­nha­do de pra­tas. Ele tam­bém aju­da­va nos­sa tia Ri­ta, que pas­sa­va por di­fi­cul­da­des fi­nan­cei­ras; meu pai re­ce­bia o di­nhei­ro pa­ra fa­zer as com­pras pa­ra ela. To­das as noi­tes ele fi­ca­va pas­san­do de um la­do pa­ra ou­tro na sa­la de jan­tar, re­zan­do o ter­ço. Ce­le­bra­va às 4:00 ho­ras da ma­nhã na Igre­ja de San­ta Ri­ta, ­aqui per­to de nos­sa ca­sa."
Ir­mã Ga­brie­la Sa­les, com ­seus 90 ­anos, per­fei­ta­men­te lú­ci­da, con­tou-me al­guns de­ta­lhes so­bre a vi­da fa­mi­liar, so­bre a in­fân­cia e a ju­ven­tu­de do Ser­vo de ­Deus. De­pois de al­gum tem­po, ela en­viou-me por es­cri­to os prin­ci­pais pon­tos de nos­sa con­ver­sa. Ela re­la­tou: "La­fa­yet­te, du­ran­te sua vi­da, foi um bom me­ni­no. Car­re­ga­va ­água do cha­fa­riz pa­ra en­cher to­do o va­si­lha­me de ca­sa. Era mui­to tra­ba­lha­dor. Do­na Ma­ria da ­Cruz da Cos­ta Coe­lho, de oi­ten­ta e se­te ­anos, pri­ma-ir­mã do Cô­ne­go, ria mui­to e zom­ba­va de Do­na Jú­lia, por­que es­ta pa­ga­va ao La­fa­yet­te ape­nas 40 ­réis pa­ra en­go­mar uma aná­gua".
O ir­mão de La­fa­yet­te, Jo­sé da Cos­ta Coe­lho, o quar­to fi­lho de Ju­ca Pa­ra­guaio e Jú­lia, era de tem­pe­ra­men­to di­fe­ren­te do ir­mão ­mais no­vo. Jo­sé era sé­rio e in­tro­ver­ti­do, e, ain­da ado­les­cen­te, de­ci­diu ir pa­ra o Se­mi­ná­rio de Dia­man­ti­na (cf. nota 2). La­fa­yet­te, à pri­mei­ra vis­ta, não ma­ni­fes­tou de­se­jo de se­guir o ir­mão. Era um ra­paz re­li­gio­so, mas não re­ve­la­va ne­nhum pen­dor pa­ra o sa­cer­dó­cio. Con­tu­do, a ati­tu­de de Jo­sé foi um le­ve cha­ma­do pa­ra ele.
O Sr. Aci­li­no de Oli­vei­ra Oto­ni, de 81 ­anos de ida­de, re­la­tou ao Pe. Eu­ler, em 1972, o se­guin­te: "Quan­do o Jo­sé ia pa­ra o Se­mi­ná­rio, ajun­tá­va­mos um gran­de nú­me­ro de jo­vens ca­va­lei­ros e ía­mos le­vá-lo a uma dis­tân­cia de lé­gua e ­meia a ­duas. Quan­do re­gres­sa­va do Se­mi­ná­rio, de fé­rias, era a mes­ma coi­sa. Fa­zía­mos uma far­ra da­na­da. À noi­te fa­zía­mos uma al­ga­zar­ra tre­men­da em ca­sa do Ju­ca Pa­ra­guaio".
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Nota 1: Francisco e Veridiana, tios do Cônego Lafayette, tiveram os seguintes filhos: Maria Sales, Joaquim Sales (padre *05/06/1906 +13/03/1976), Gabriela Sales (Freira Vicentina), Vidica, Antônio, Francisco, Francisca e José.
Nota 2: Vicente, 83 anos, e sua irmã Isabel Pires da Costa Coelho, 85 anos, primos do Cônego Lafayette, lembram que já foram ordenados vários padres na família: Mons. José Coelho, Cônego Lafayette, Pe. Joaquim Sales, Dom José Pedro de Araújo Costa, Pe. Afonso de Fátima e Pe. João Nogueira. Juca, filho de Olegário, faleceu quando faltavam três anos para sua ordenação presbiteral. Para a Vida Religiosa, a família contribuiu com: Maria Costa Coelho, irmã de Juca Paraguaio, Ir. Gabriela Sales (+28/02/1996), Ir. Antônia Augusta, Ir. Maria Assunção Oliveira Coelho e Ir. Apoline Coelho.

(Trecho do livro "A grandeza na simplicidade", de Pe. Ismar Dias de Matos, editora FUMARC, Belo Horizonte-MG, 2001, p.34-37).

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