Nos Seminários Menores, erigidos para cultivar os germes da vocação, sejam os alunos preparados com especial formação religiosa, sobretudo por uma direção espiritual conveniente, para se disporem, com generosidade e coração puro, a seguir o Cristo Redentor (...) Toda a educação dos estudantes seja tal que neles se formem verdadeiros pastores de almas, a exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, Mestre, Sacerdote e Pastor.(Concílio Vaticano II, Decreto Optatam Totius, ns. 3 e 4).
O Seminário de Diamantina foi fundado em 1867 pelo primeiro Bispo da Diocese, Dom João Antônio dos Santos, que, seguindo uma forte espiritualidade da época, dedicou aquela casa de formação sacerdotal ao Sagrado Coração de Jesus. Ali, juntamente com as ciências, aprendia-se também a salutar devoção ao Sagrado Coração, bastante ligada à devoção Eucarística. Foi a partir da publicação da Encíclica "Annum Sacrum" (1899), pelo Papa Leão XIII, que o culto tomou grande impulso, com as ladainhas, o mês do Sagrado Coração e a devoção à "primeira sexta-feira do mês". O próprio Romano Pontífice fez um solene ato de Consagração ao Sagrado Coração de Jesus no dia 31 de dezembro de 1899.
O Seminário foi dirigido até 1964 pelos padres da Congregação da Missão, mais conhecidos como Padres Lazaristas. Esses padres eram, em sua grande maioria, europeus. E o Seminário seguia o estilo escolar da Europa, com o ano letivo começando em outubro. Era uma vida bem diferente dos tempos de hoje.
Em 1908, num domingo, 4 de outubro10, o reitor do Seminário Episcopal, o missionário francês Pe. Ernesto Henrique Lacoste, recebeu o jovem Lafayette, que vinha matricular-se naquela casa de formação sacerdotal. Contava, então, vinte e dois anos. Aquele jovem alto, forte e cheio de vida, estava consciente do que queria.
Juntamente com Lafayette matricularam-se: Zózimo Ramos Couto (Diamantina), José Viana Gonçalves (Diamantina), Gil Pereira da Silva (Guanhães), Sylvio Catão (Guanhães), Plínio de Magalhães e Augusto Lins (Serro), Ubirajara Viana Novaes e Álvaro Viana Novaes (Itabira do Mato Dentro.
Entrando para o Seminário, ele sabia que iria trajar, doravante, batina e barrete. Sabia que as visitas à casa paterna seriam raras. Começava uma vida austera, de obediência ao Padre Superior, aos professores e regentes. Levantava às cinco horas da manhã para a oração, missa e café. Às sete começavam as aulas, que eram intercaladas com equivalente tempo de estudos. Estudava-se uma hora e havia, sucessivamente, uma aula com duração de uma hora. O almoço era às dez e meia da manhã. Após o meio-dia recomeçavam as atividades escolares. Às 16:30, era o jantar. À noite, havia o chá, a oração da noite às 20:30 horas e depois... dormir. Assim era o dia-a-dia do Seminário em 1908.
Dali do Seminário, Lafayette podia contemplar o majestoso Pico do Itambé, que lhe trazia saudades de casa. Mas as lições de saudades se misturavam ao enorme desejo de atingir os degraus do sacerdócio e, com este, a possibilidade de secundar as ações do Cristo Pastor e Mestre do Amor.
Quando o jovem seminarista foi passar as primeiras férias, começou a viver uma experiência nova. Era a primeira vez que voltava à convivência familiar, após um período de rotina austera e disciplinada, que ele começava a incorporar à sua nova opção de vida. Os próprios pais dos seminaristas costumavam tratá-los com formalidades, pois vendo-os com os trajes eclesiásticos, já anteviam os padres que tanto respeitavam. Assim, em casa, Lafayette começou a tratar suas primas com mais cerimônias, disse-me sua prima Ir. Gabriela Sales. Ele as chamava de "freiras", respondendo ao tratamento de "frade". Mas às vezes tudo se transformava numa grande brincadeira de crianças e jovens.
No Seminário Episcopal de Diamantina, que sempre ofereceu uma das melhores formações para o clero do Brasil, Lafayette fez os cursos de Humanidades (Seminário Menor), com duração de cinco anos; Filosofia, com duração de dois anos; e Teologia (Seminário Maior), com duração de três anos. Foram dez anos de estudo e oração naquela casa que já formou tantos filhos ilustres para a Igreja e para o País.
Através da citação das disciplinas cursadas no Seminário Menor, o leitor terá uma visão sobre a formação humanística dos alunos: estudavam Português, Latim, Inglês, Francês, Álgebra, Desenho, Geografia, História Universal, Instrução Religiosa, etc. O Curso de Teologia tinha as seguintes disciplinas: Dogma, Moral, História Eclesiástica, Direito Canônico, Sagrada Escritura, Hermenêutica, Liturgia, etc.
No Seminário Menor, Lafayette teve como colegas uma turma de rapazinhos bem mais jovens do que ele, em sua maioria, dos quais foi Regente (auxiliar de disciplina). Como Regente, tinha um quarto individual. No Seminário Maior, era um aluno médio. No curso de Teologia suas melhores notas eram em Teologia Moral, Direito Canônico e História da Igreja.
Durante a ascensão nos estudos do Seminário, até chegar a ser ordenado presbítero, o seminarista recebia as chamadas ordens menores. São os "degraus do sacerdócio". Foi assim que no dia 24 de abril de 1914 chegou a vez do seminarista Lafayette receber a primeira tonsura (uma pequena coroa no alto da cabeça, não mais praticada hoje). Em 1915, recebeu o diaconato, em 8 de abril.
Antes da ordenação o candidato ao sacerdócio deveria escrever um requerimento pedindo ao Bispo que incluísse o seu nome entre aqueles que receberiam as ordens sacras no final do ano. Era feito um processo canônico na Diocese para a escolha e admissão do candidato. Com o diaconato, confirma-se o chamado de Deus, através da escolha e chamado da Igreja, na pessoa do Bispo.
Encontra-se no Arquivo da Cúria Metropolitana de Diamantina o seguinte documento, feito de próprio punho pelo seminarista Lafayette:
Lafayette da Costa Coelho, nascido, batizado e morador na Freguezia de Nossa Senhora da Conceição do Serro, deste Bispado de Diamantina, filho legítimo de José da Costa Coelho e Júlia Felisbina de Jesus, naturais da dita Freguezia, neto paterno de Rogério da Costa Coelho e Maria Eufrásia de Jesus, e materno de Bernardino da Costa Coelho e Maria Eulália da Luz, com vinte e nove anos de idade, desejando ser promovido às ordens sacras até o Presbiterato, vem rogar a V. Ex.a Rev.ma se digne admiti-lo à habilitação de genere, mandando proceder as diligências de estilo.
Nestes termos, pede a V. Ex.a Rev.ma benigno deferimento e E.R.M
Diamantina, 22 de março de 1916.
a) Lafayette da Costa Coelho
Dentro das "diligências de estilo" foram ouvidos os depoimentos de duas testemunhas pela Câmara Eclesiástica, em Diamantina: Virgílio Mamede Alves Pereira, 52 anos, e Fernando Augusto de Vasconcelos, 49 anos, ambos residentes na cidade de Serro.
Depois de todo o processo aprovado, a ordenação presbiteral aconteceu no dia 15 de abril de 1917, pela imposição das mãos do Bispo de Diamantina, Dom Joaquim Silvério de Souza, em cerimônia realizada na Capela do Sagrado Coração de Jesus, anexa ao Seminário, que hoje é a Basílica do Coração de Jesus. Lafayette foi o único de sua turma a tornar-se sacerdote.
Sua ordenação foi registrada pelo semanário "A Estrela Polar", órgão oficial da Arquidiocese de Diamantina, que, em sua edição de 22 de abril de 1917, trouxe uma pequena coluna, assinada por Prado, intitulada NO SEMINÁRIO, que dizia:
"O dia 15 de abril, domingo passado, foi, para os alunos deste Estabelecimento, cheio de alegria. Viram de joelhos aos pés do Pontífice, no recinto sagrado, na Capela do Sagrado Coração de Jesus, toda ornada e revestida de galas, um jovem levita e cinco outros seminaristas... Como manifestações do entusiasmo de que se achavam possuídos, quiseram os seminaristas menores saudar o novo sacerdote, Rev.mo Senhor Pe. Lafayette Coelho, seu regente desde alguns anos. Após o almoço, se dirigiram ao salão, com a banda de música, fazendo-se ouvir o aluno José Altimiras Júnior, que dirigiu, em nome dos colegas, ao novo Padre, palavras de gratidão e amor. Também o seminarista menor Paulo Cesário pronunciou um atraente discurso de congratulação... O aluno Francisco Silva saudou o novo sacerdote e os outros seminaristas por um bem elaborado discurso: 'Sois, Padre, disse ele. Ides espalhar entre os ricos e pobres, entre os orgulhosos e os humildes, a doutrina santa do Evangelho, trazer ao seio da religião e da Igreja as ovelhas desgarradas, seguindo o exemplo do Divino Mestre... Ó quão sublime é a vossa missão! Sois aquele que entrará no mais rico palácio como na mais humilde choça... Tereis lenitivos para as dores, para as misérias dos indigentes...' (E outras coisas mais).
À noite, houve teatro, com apresentação do Drama O Tio Falot ou o Incendiário de Vangirar. Durante os intervalos, a banda executou várias peças".
Naquele ano de 1917, por estes nossos lados, longe das informações sobre a guerra mundial, alheios a quase tudo, muitos viviam tranqüilamente. Os meios de comunicação eram raros e pouco eficazes. O neo-sacerdote, porém, sabia que aquele era um ano difícil: a Primeira Guerra mundial (1914-1918) continuava. Os afazeres masculinos no campo e nas oficinas começaram a ser executados por mulheres, pois os homens tinham sido convocados para a guerra. O capitalismo começava a se firmar por toda a parte, com um avanço no setor industrial. A Rússia retirava-se da Guerra e instalava o regime social - marxista (comunismo). Novidades para o mundo! Porém, em meio a esses acontecimentos, uma nova luz brilhava para o mundo: em Portugal, a Virgem de Fátima fazia de Francisco, Lúcia e Jacinta os portadores de sua mensagem de esperança e de paz.
Essa é uma pequena mostra do contexto em que o Pe. Lafayette iniciava o seu ministério pastoral.
A missão estava começando. E foi exercida unicamente na Arquidiocese de Diamantina.
MINAS E SEUS SANTOS
Há 15 anos
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